Carta a um médico
(Deborah Rodrigues)
Ei, olha para mim!
Sou essa pessoa sentada em sua frente enquanto você meticulosamente observa um papel em branco em sua frente.
A caneta circula entre em seus dedos ansiosa para dar fim aquele momento.
-Dói onde?
-Desde quando?
-Toma alguma medicação?
-Alguma doença coronária ou diabetes na família?
-Vou prescrever uma medicação, não melhorando os sintomas retorne em quinze dias.
Passaram-se 8 minutos desde o início da consulta.
Nesse momento você me pergunta meu nome, apenas para constar da receita, fico imaginando que cor seriam seus olhos.
O que te tornou assim tão austero, frio, distante.
Busco fotos de família no consultório e encontro a tradicional foto de família.
Mas há algo errado. Como alguém com uma família tão bonita, com um trabalho que por certo lhe exigiu anos de estudo e de dedicação e no qual foi vitorioso, pode ter de repente desistido de sonhar. Sim por que pelo que vejo, assim que conquistou a meta, declarou-se "realizado" e parou no tempo, iniciando nesse o momento o contador de dias que faltam para aposentadoria.
Um paciente, é apenas mais um.
Um diagnóstico, é apenas mais um.
Um novo dia, é apenas mais um.
Mas e se o amanhã não chegar?
Qual o CID para desperdício de vida?
Bem se fosse no meu caso, você diria, depressão e me receitaria um antidepressivo.
Só que no meu diagnóstico eu diria falta de coragem e receitaria desafios.
Porque se tudo está tão confortável como está, para que mexer não é mesmo.
Para que ser feliz, se já se tem tanto!
Você me entrega sua receita, ainda com os olhos para aquele "santo" papel que para você é a expressão suprema de seu conhecimento a cerca do ser humano.
-Até mais.
Não me levanto e ele finalmente olha para mim, repetindo mentalmente com seu olhar, até mais!
São azuis, lindos olhos azuis.
-Até mais eu disse e a propósito, apesar dessa expressão tensa cansada, os seus olhos ainda conseguem se sobressair, só falta reencontrar o brilho deles...
Saí, sabendo que ele me observava assombrado, ou pela minha suposta petulância, ou por eu ter provocado nele a lembrança de quem um dia ele foi...
(Deborah Rodrigues)
Ei, olha para mim!
Sou essa pessoa sentada em sua frente enquanto você meticulosamente observa um papel em branco em sua frente.
A caneta circula entre em seus dedos ansiosa para dar fim aquele momento.
-Dói onde?
-Desde quando?
-Toma alguma medicação?
-Alguma doença coronária ou diabetes na família?
-Vou prescrever uma medicação, não melhorando os sintomas retorne em quinze dias.
Passaram-se 8 minutos desde o início da consulta.
Nesse momento você me pergunta meu nome, apenas para constar da receita, fico imaginando que cor seriam seus olhos.
O que te tornou assim tão austero, frio, distante.
Busco fotos de família no consultório e encontro a tradicional foto de família.
Mas há algo errado. Como alguém com uma família tão bonita, com um trabalho que por certo lhe exigiu anos de estudo e de dedicação e no qual foi vitorioso, pode ter de repente desistido de sonhar. Sim por que pelo que vejo, assim que conquistou a meta, declarou-se "realizado" e parou no tempo, iniciando nesse o momento o contador de dias que faltam para aposentadoria.
Um paciente, é apenas mais um.
Um diagnóstico, é apenas mais um.
Um novo dia, é apenas mais um.
Mas e se o amanhã não chegar?
Qual o CID para desperdício de vida?
Bem se fosse no meu caso, você diria, depressão e me receitaria um antidepressivo.
Só que no meu diagnóstico eu diria falta de coragem e receitaria desafios.
Porque se tudo está tão confortável como está, para que mexer não é mesmo.
Para que ser feliz, se já se tem tanto!
Você me entrega sua receita, ainda com os olhos para aquele "santo" papel que para você é a expressão suprema de seu conhecimento a cerca do ser humano.
-Até mais.
Não me levanto e ele finalmente olha para mim, repetindo mentalmente com seu olhar, até mais!
São azuis, lindos olhos azuis.
-Até mais eu disse e a propósito, apesar dessa expressão tensa cansada, os seus olhos ainda conseguem se sobressair, só falta reencontrar o brilho deles...
Saí, sabendo que ele me observava assombrado, ou pela minha suposta petulância, ou por eu ter provocado nele a lembrança de quem um dia ele foi...
Nenhum comentário:
Postar um comentário