Amor, amor, amor...
(Deborah Rodrigues)
Conheceram-se há um ano, em São Paulo, no metrô, nessas quase impossíveis situações de idas e vindas diárias de milhares de pessoas do cotidiano de uma metrópole. Ela voltando da faculdade de Enfermagem e ele do Hospital onde fazia Residência. Como ela entrou correndo, esbarraram-se e seus livros esparramaram-se no chão, ele gentilmente ajudou-a recolhê-los e foi assim que Julia e Ronaldo se conheceram.
Sorrisos tímidos, aquela conversa inicial meio perdida, a troca de telefones e a expectativa do primeiro encontro. Ela tinha 21 anos e ele 23.
Todos sabem que a paixão não tem razão nem explicações, então nascia ali mais uma caso nas estatísticas de amor à primeira vista.
Seu primeiro encontro foi num botequim na Lapa, meio caminho para casa dos dois. Tocava pagode e Ronaldo pediu dois chopes sem saber que Julia não bebia, ela ficou com o copo na sua frente, ás vezes enganava e encostava o copo nos lábios “como se se pudesse fingir que um copo se esvazia” assim magicamente. Mas quando ele desviava a atenção ela jogava um pouco no chão.
Conversaram, descobriram muitas coisas em comum, como cinema e viajar, outras não, como pagode e chope, Ronaldo ficou vermelho, os dois riram muito, então trocaram o copo de Julia, finalmente, por um de refrigerante antes que alguém escorregasse no chope derramado. Partiram então e o encanto da noite foi selado pelo primeiro beijo.
Ambos seguiram para suas casas.
Julia seguiu sonhando com um príncipe.
Ronaldo com o quanto um relacionamento agora poderia atrapalhar seus planos para o futuro. Sem contar o quanto sofrera em seu último relacionamento. Jurara a si mesmo que nunca mais iria dizer eu te amo a mulher alguma... Mas Julia era tão meiga, tão especial, realmente mexera com ele.
Bem decidiu pensar durante uma semana antes de ligar novamente para ela.
Júlia acordou cedo no dia seguinte, alegre, disposta, contou a todas as amigas que conhecera o homem mais gentil de sua vida. De um em um minuto ela olhava o celular, conferia a bateria, o sinal e nada. Como tinha prova manteve no silencioso, mas ele não tocou. Falara ela algo que ele não gostou? Teria causado má impressão em algum momento? As horas passaram, o dia passou, anoiteceu e antes de adormecer ela chorou porque ele não ligou e por ter sonhado em vão.
Do outro lado Ronaldo, por vários momentos teve o ímpeto de ligar, mas lembrou de sua decisão, das metas, de sua decepção.
Com 18 anos entrou na faculdade de medicina da USP onde conheceu Ana, uma menina simples vinda do interior, pela qual se apaixonou. Namoraram e a paixão virou amor, fizeram planos de casar e após fazer a residência irem fazer mestrado e doutorado no exterior, tudo bancado pela família de Ronaldo já que a família de Ana era de baixa renda. Fizeram uma linda festa de noivado na casa da família de Ronaldo quando completaram 3 anos de namoro, ela estava linda, a morena dos olhos de esmeralda.
Aproveitando que ela se afastara para ir ao banheiro ele foi buscar o presente que havia comprado para ela, um lindo colar da cor de seus olhos. Mas ao abrir a porta do closet, depara-se com o amor de sua vida, nos braços de Marcos, seu melhor amigo, num beijo apaixonado, seu mundo ruiu, naquele momento jurou nunca mais amar novamente.
Mudou de faculdade. Afastou-se de todos. Fechado para o mundo seguiu com os planos de terminar a residência e partir para o exterior só que agora permanecer definitivamente.
Mas Júlia... Por que agora? Realmente ela tinha algo especial, lhe transmitira segurança. Não parecera ser como a interesseira Ana. Pensou nela o dia todo. E antes de adormecer foi seu último pensamento.
Júlia acordou triste, bem diferente do dia anterior, as amigas perceberam e então preferiram não comentar sobre Ronaldo.
Mesmo assim ele não saía de seu pensamento porque ele não lhe havia passado essa imagem de Don Juan. Ele passou a imagem de um homem sincero, interessante, cativante. Será que ela se enganara? Será que acontecera algum acidente, algo grave? Decidiu ligar a noite, caso ele não fizesse contato.
Na sala de cirurgia, Ronaldo terminava os procedimentos pós-cirúrgircos quando uma voz diz:
-Enfermeira Júlia, por favor!
Prontamente ele se vira e sorri, mas não, não era a sua Júlia. Minha Júlia? Quanta arrogância a minha! Minha Júlia... Foi aí que ele entendeu, que o coração sempre fala mais alto que a razão. A Júlia já estava dentro dele, já era a Júlia dele e não adiantava se enganar, fugir, se esconder. Saindo da sala de cirurgia ele ligou para Júlia, marcaram um jantar.
Ele levou rosas.
Ela levou sonhos.
Começaram a namorar então naqueles 24 de abril de 1987.
Viveram momentos lindos e difíceis também porque Ronaldo tinha muitas inseguranças.
Júlia teve que ter muita paciência com ele.
Resolveram comemorar o seu primeiro aniversário de namoro naquele mesmo botequim da Lapa, chegariam separados igualzinho a primeira vez.
Ronaldo contratou uma serenata e iria pedir Julia em casamento e pela primeira vez, sentia-se forte o suficiente para dizer que a amava, seria a primeira de muitas noites inesquecíveis que teriam.
Ele a avistou em um vestido lindo, vermelho do outro lado da via, e disse a todos com os olhos lacrimejando:
-Vejam como é linda minha Julia!
O sinal abriu para os pedestres e ela como uma princesa atravessando o tapete vermelho cruzou a viu.
De repente, o barulho, o vidro estilhaçado pelo chão, o grito de dor, o silêncio...
Um carro furou o sinal em alta velocidade e atinge sem piedade e a “Julia de Ronaldo” flutua feito anjo sem asas pelo ar.
Ronaldo corre, a abraça e pede:
-Julia não se vá!Eu te amo!
Ela abre os olhos, sorri como quem já sabia e pouco a pouco adormece nos braços de seu amor... Para não mais acordar.
Eu quase chorei tá! Faltou só um pouquinho.. que dó..
ResponderExcluirÉ um Melodrama muito Dramatico..
bjs..